domingo, 23 de junho de 2013

Galassia de Cristiane Grando, traduzione de Maria Antonietta Ferro

Galassia
(poesia per il cinema)


Cristiane Grando
Traduzione: Maria Antonietta Ferro


P.S. solo per te: le lenzuola azzurre di lune e di stelle sono quelle messe sul mio letto e questo testo è da mettere in scena.


24 ore di una donna
Tu sei una galassia. Per la prima volta esco dalla mia via lattea per attraversare frontiere e calpestare nuove terre. Salgo a spirale nel tuo centro. Dal tuo mondo dorato, vedere dove vivo, chi sono, che faccio nella vita in questo istante… ciò che provò il primo uomo che mise piede sulla luna e vide la Terra da lontano: la sua immensa casa e se stesso unito a tutti i suoi fratelli, condividendo la stessa atmosfera, la stessa aria. Un’esplosione di energie.
Che senso trovo in ciò che vivo adesso? Controllare le mie forze interiori e sapere dove sono, dove voglio andare e come fare ad arrivarci. Questo è tutto ciò che mi ispiri, galassia mia.
Entrare nella tua pelle, nel tuo corpo di luce per raggiungere la felicità. Perché non siamo nati per vivere soli. Salvo nei rari momenti che arrivano così inaspettati come un amore a prima vista, amore con certe luci e certi colori - -beaux, bleus, ces poissons qui brillaient dans la mer- o in epoche di pienezza che abbiamo conquistato nel quotidiano con saggezza: pioggia di stelle.


Il ritmo del tempo
Le cose invecchiano troppo rapidamente. Bisogna fare largo all’amore. Guarda gli oggetti che ci circondano, my darling. Quest’ombrello carico di tempo. Tanti oggetti comprati da poco più di un anno… tante storie… quello che rende magica la vita.
Raccontiamo quello che abbiamo vissuto nelle ultime 24 ore: lune e stelle nelle mie lenzuola azzurre. Il ritmo del tempo. Da quando ci siamo visti, un cambiamento brusco nelle nostre vite: ogni minuto, un anno… e alcuni come se il tempo cessasse di esistere. Che cosa significa il passato? Il futuro esiste? No, no, mia galassia, ci incontriamo in sguardi, baci, volti incollati al corpo uno dell’altro prima di dormire un sonno profondo. Un minuto di sogni con luci superiori. Qualcosa come l’amore e l’eternità che camminano insieme: due ombrelli colorati che ballano al vento.
24 ore insieme. Altro ritmo. Come se ci amassimo da molti millenni...
Dopo la tua partenza, queste parole scritte di getto. Perché la vita segue il suo ritmo. Un po’ più lento se non siamo insieme.


Lento
Ascolto Xiomara Fortuna. Suona il cellulare. Il tuo messaggio: Sono lontano. Io ti rispondo: Hummmmmm… Ti amo lo stesso. Oggi o domani. Quando ti avvicini. Ma nel frattempo ti desidero da lontano.


Piove nella mia finestra. Nella mia solitudine piovono mille benedizioni.


Allegro, ballando
Ci siamo rivisti. Solo di vederti tutto vestito di nero mi resi conto: non sei l’uomo che ho conosciutoe nelle 24 ore che abbiamo passato insiemi. Fosti tenerezza nelle mani, dolcezza nel guardarmi: ad occhi chiusi mi donasti per ore la tua bocca di desiderio.


Chiuso in te stesso fosti un ciclo nell’oscurità senza stelle: la Terra che ballava attorno al suo asse. E io, girando, girando, fui la Terra felice attorno a sé e al Sole.


Ti... mo... mi dicesti. E io pensai: Se c’è timore non c’è amore – mi ha insegnato la vita. Io nella mia sete di sole aggiunsi una lettera: Ti... a... mo... cercando risate silenziose mie, tue, la chiave per aprire il segreto dei tuoi occhi. Come vedi, una sola lettera cambia tutto.


Prendimi fra le tue braccia, nella tua bocca. Voglio essere la tua pelle e i tuoi occhi chiusi. Comprendere la vita e i suoi misteri: la forza magnetica dell’amore fra le nostre orbite, mia galassia mia… Perché l’amore non è apparso fra i miei occhi e quelli di tanti altri. Perché vedo bellezza e luce adesso solo in te. Perché siamo un tutt’uno. Il niente è momenti di silenzio. Siamo tanti. Mi chiedi: Arriveremo in tempo? Sempre arriveremo in tempo, galassia mia. Il tempo è un’invenzione degli uomini. Un’illusione. Ma noi sappiamo come essere dèi e i nostri occhi-ombrelli-danzanti sono il bagliore azzurro e rosa dei pesci fra le lenzuola e in mare… I nostri occhi sono orbite ellittiche da cui spira amore.



domingo, 16 de junho de 2013

Situação de Aprendizagem.

Pensamento: “Leitura e Escrita é a base do ser humano em sua vivência” (S.Lia)
Ler e Escrever (Poema-S.Lia)
Quando lemos
Despertamos para a vida
No tempo viajamos
Em nosso dia a dia.
Através de grandes emoções
Ler e escrever é terapia
Mexe com os corações
Com nossa fantasia.

A capacidade leitora começa no primeiro dia  de aula por ser essencial na vida de todo ser humano.  Portanto, desde a base, a leitura é importante para o nosso dia a dia e tornarmos cidadãos conscientes.
Objetivos:
Capacitar o aluno a ler, e através dela, a desenvolver a escrita.  Segundo a teoria de Roxane Rojo  define-se como comportamento de leitura “um conjunto mais amplo de fazeres e de rituais que envolvem as práticas de leitura”. 
O texto escolhido por nosso grupo para a atividade didática foi   “Meu primeiro beijo”    de Antonio Barreto,  pois trabalhamos com o Ensino Fundamental II,  e o  texto é bastante pertinente para essa idade.
Nosso Grupo:  Sandra Lia, Sonia Maria, Vera Lucia Grando, Vera Lucia Lira, Tatiana
1º. Módulo:
O professor faz uma roda de conversa para a avaliar o conhecimento  prévio sobre o tema escolhido:
- Você já beijou?  Com qual idade?
- Onde foi o seu primeiro beijo
- O que sentiu ao ser beijado pela 1ª. Vez?
- Com que idade isso aconteceu?

 Distribuição do texto pelo professor  para leitura e interpretação.
“Meu primeiro beijo” de Antonio Barreto.

Meu Primeiro Beijo

         É difícil acreditar, mas meu primeiro beijo foi num ônibus, na volta da escola. E sabem com quem? Com o Cultura Inútil! Pode? Até que foi legal. Nem eu nem ele sabíamos exatamente o que era "o beijo". Só de filme. Estávamos virgens nesse assunto, e morrendo de medo. Mas aprendemos. E foi assim... 
        Não sei se numa aula de Biologia ou de Química, o Culta tinha me mandado um dos seus milhares de bilhetinhos:
        " Você é a glicose do meu metabolismo.
        Te amo muito!
        Paracelso"
         E assinou com uma letrinha miúda: Paracelso. Paracelso era outro apelido dele. Assinou com letrinha tão minúscula que quase tive dó, tive pena, instinto maternal, coisas de mulher...E também não sei por que: resolvi dar uma chance pra ele, mesmo sem saber que tipo de lance ia rolar.
        No dia seguinte, depois do inglês, pediu pra me acompanhar até em casa. No ônibus, veio com o seguinte papo:
       - Um beijo pode deixar a gente exausto, sabia? - Fiz cara de desentendida.
       Mas ele continuou:
       - Dependendo do beijo, a gente põe em ação 29 músculos, consome cerca de 12 calorias e acelera o coração de 70 para 150 batidas por minuto. - Aí ele tomou coragem e pegou na minha mão. Mas continuou salivando seus perdigotos:
       - A gente também gasta, na saliva, nada menos que 9 mg de água; 0,7 mg de albumina; 0,18 g de substâncias orgânica; 0,711 mg de matérias graxas; 0,45 mg de sais e pelo menos 250 bactérias...
       Aí o bactéria falante aproximou o rosto do meu e, tremendo, tirou seus óculos, tirou os meus, e ficamos nos olhando, de pertinho. O bastante para que eu descobrisse que, sem os óculos, seus olhos eram bonitos e expressivos, azuis e brilhantes. E achei gostoso aquele calorzinho que envolvia o corpo da gente. Ele beijou a pontinha do meu nariz, fechei os olhos e senti sua respiração ofegante. Seus lábios tocaram os meus. Primeiro de leve, depois com mais força, e então nos abraçamos de bocas coladas, por alguns segundos.
      E de repente o ônibus já havia chegado no ponto final e já tínhamos transposto , juntos, o abismo do primeiro beijo.
      Desci, cheguei em casa, nos beijamos de novo no portão do prédio, e aí ficamos apaixonados por vária semanas. Até que o mundo rolou, as luas vieram e voltaram, o tempo se esqueceu do tempo, as contas de telefone aumentaram, depois diminuíram...e foi ficando nisso. Normal. Que nem meu primeiro beijo. Mas foi inesquecível!
    
                                    BARRETO, Antonio. Meu primeiro beijo. Balada do primeiro amor. São Paulo: FTD, 1977. p. 134-6.

2º.  Módulo:
O professor,  após o levantamento das ideias,  explica que o texto faz parte da obra “Balada do primeiro beijo”de Antonio Barreto, onde a protagonista é uma adolescente que conta um momento importante de sua vida.  Em seguida, lê o texto com entonação e pedi para os alunos fazerem uma leitura compartilhada, também,  com entonação.

3º. Módulo:
Analisar o texto, respondendo às seguintes perguntas:
- Qual o momento importante da protagonista e quando aconteceu?
 - Qual o tema tratado?
-  Qual o público alvo?
- Qual o foco narrativo?
- Qual é o gênero e a tipologia do texto?
4º. Módulo:
 Após analisarem o texto , respondam:
- Por quê o menino é chamado de “Cultura Inútil” e  “Culta”?  Justifique.
- Quais são os julgamentos  que faz a narradora a respeito do 1º beijo durante a narrativa.      Justifique.
- Qual a protagonista do texto?
-Quais os personagens envolvidos?
- Os jovens de hoje comportam-se como os de ontem?
5º. Módulo:
Confeccionar uma canção própria ou uma paródia referente ao tema lido.
6º. Módulo:
Pesquisar o texto de Machado de Assis “O primeiro beijo”  e  fazer a intertextualidade com o autor lido.
7º. Módulo:
- Formar grupos de 4 a 5 alunos.
- Escolher a canção ou paródia que fizeram e apresentar para a sala de aula.
8º. Módulo:
- Com os professores  de arte  e ciências, fazer a interdisciplinaridade.

Roxane Rojo X Meu Primeiro Beijo, António Barreto


Vera Lúcia Grando/ Sandra Lia

Meu primeiro beijo

Antonio Barreto

 

Procuramos desenvolver a atividade da sequência didática, seguindo a teoria de Roxane Rojo,  a qual define como comportamento de leitura “um conjunto mais amplo de fazeres e de rituais que envolvem as práticas de leituras”. Pode-se ler da esquerda para a direita e de cima para baixo no Ocidente; folhear o livro da direita para a esquerda e de maneira sequencial e não salteada; usar caneta marca-texto para iluminar informações relevantes numa leitura de estudo ou de trabalho; adequar a modalidade de leitura – exploratória ou exaustiva, pausada ou rápida, cuidadosa ou descompromissada…- aos propósitos que se perseguem e ao texto que se está lendo.

As modalidades , para ela, seriam : Leitura colaborativa; leitura compartilhada, leitura programada (sequência didática), roda de leitores, projetos de leitura, leituras pontuais, leitura em voz alta feita pelo professor/aluno.

 

SEQUÊNCIA DIDÁTICA

I-CAPACIDADE DE LEITURA: ATIVAÇÃO DE CONHECIMENTOS DO MUNDO

COMO RESOLVER: Fazer o levantamento prévio sobre o tema.

 

a-      Você já beijou ?

b-      Você se lembra quando foi o seu primeiro beijo?

c-       Você conhece alguém que nunca beijou na boca?

d-      No Brasil, a partir de que idade a sociedade de certa forma permite que ocorra o beijo na boca?

e-      Você sabe quando apareceu o primeiro em uma cena televisiva ou em uma revista?

f-       O beijo em público é permitido? E na sua escola é permitido beijar na boca?

II- CAPACIDADE DE LEITURA:CHECAGEM DAS HIPÓTESES, ANTECIPAÇÃO

                COMO DESENVOLVER : Apresentar o texto ,checar o conhecimento prévio sobre o autor, perguntar sobre as possibilidades dos fatos .

A-      o professor apresenta o texto  e trabalha os elementos paratextuais  - ilustração, edição, autor e organização do relato.

1-Você conhece esse autor? Quem é ele?

2-Você já leu algum texto dele antes?

B-      Fazer a leitura compartilhada com os alunos, todos devem acompanhar a leitura da professora ou de um colega, ou de vários. Geralmente , os alunos gostam de no mínimo de duas leituras. No primeiro parágrafo, perguntar :

1-       Quem  conta os fatos é do gênero feminino ou masculino ?

2-      Para quem o narrador conta a história do primeiro beijo?

3-      Com quem vocês acham que foi o primeiro beijo? etc.

4-      Durante a leitura quais os apelidos que o menino recebeu?

III- CAPACIDADE DE LEITURA: LOCALIZAÇÃO DE INFORMAÇÕES.

COMO DESENVOLVER :Fazer a Análise de Texto após a leitura na íntegra.

a-      Qual é o gênero do texto?

b-      Quais as características ou domínios de comunicação que se enquadram neste gênero?

c-       Você se lembra de algum relato semelhante ao do texto?

d-      Quem conta os fatos memorizados participa deles?

e-      O narrador é personagem (participa da história), observador (apenas relata fielmente os fatos)  ou onisciente (sabe tudo e comenta sobre os fatos e personagens )?

f-       Quais são os personagens envolvidos no texto?

g-      Quais foram os fatos vividos ?

h-      Onde os fatos vividos ocorreram?

i-        Quando eles aconteceram?

j-        Como e por que os fatos ocorreram?

IV-CAPACIDADE DE LEITURA: COMPARAÇÕES DE INFORMAÇÕES.

      COMO DESENVOLVER: questionar as vivências semelhantes ou diferentes .

a-      Se você já beijou na boca, a sua primeira vez teve algo de semelhante com o texto?

b-      Se você ainda não beijou na boca, você acredita que poderá acontecer de maneira semelhante com você? Por quê?

V- CAPACIDADE DE LEITURA: GENERALIZAÇÕES

      COMO DESENVOLVER: Síntese oral sobre o texto e impressões acerca dele.

a-      Fale de que se trata o texto?

b-      O mais lhe chamou a atenção durante a leitura dele?

VI-CAPACIDADE DE LEITURA: PRODUÇÃO DE INFERÊNCIAS LOCAIS

      COMO DESENVOLVER: Fazer a Análise Semântica, levantamentos de dados

            1- a-Há palavras que você não conhece o significado? Quais?

b- Qual foi valor inicial assumido pelos personagens para gerar o sentido do texto?

c- Percebe-se  uma iniciativa de assumir  o desejo de beijar por meio de bilhetinhos. Quem os escreveu?

d- Pode-se deduzir que alguém foi manipulado por tentação, ou por provocação ou por imposição ou por sedução?

e- No final do relato, o valor assumido no início do conto , beijar, tem a mesma intensidade e o mesmo significado?

      2-Fazer o estudo da língua.

1-Observe os verbos do texto e comente por que predominam aqueles empregados no passado, no pretérito perfeito.

 

3- O que você conclui do texto?

a-      Em relação ao uso das palavras?

b-      Em relação  ao uso do tempo do verbo?

c-       Em relação ao valor (primeiro beijo) ? Ele é ainda importante para os jovens e adolescentes?

VII- CAPACIDADE DE LEITURA: PERCEPÇÃO DE RELAÇÕES DE INTERTEXTUALIDADE E INTERDISCURSIVIDADE.

      COMO DESENVOLVER: Levantar palavras, partes do texto.

A-Procure no texto palavras que pertencem aos vários campos:

a-      Ciências:

b-      Matemática :

c-       Transporte:

d-      Relacionamentos:

e-      Sentimentos:

              B –Produção de textos e intertextualidade.

1-      Você se recorda de ter lido um texto semelhante? Qual?

2-      Encontre três palavras  que definem o texto.

3-      Resuma o texto em duas  linhas.

4-      Você acredita que hoje as meninas e meninos se comportam de maneira semelhante para dar o seu primeiro beijo?

5-      Faça um desenho que representa o (seu) primeiro beijo.

6-      Qual música você escolheu ou escolhe para o seu primeiro beijo.

7-      Qual filme faz lembrar um beijo inesquecível?
 
Referência:
ROJO,Roxane. Letramento e capacidades de leitura para a cidadania. São Paulo:SEE:CENP,2004.Texto apresentado em Congresso realizado em maio de 2004.


Esta sequência didática foi elaborada por Vera Lúcia Grando/Sandra Lia para o curso Melhor Gestão , Melhor Ensino, 2013

terça-feira, 11 de junho de 2013

Joaquim Dolz


2. GêNEROS E PROGRESSÃO EM EXPRESSÃO ORAL E ESCRITA -ELEMENTOS PARA REFLEXÕES SOBRE UMA EXPERIêNCIA SUÍÇA (FRANCÓFONA)1
Joaquim Dolz2 & Bernard Schneuwly


Como acontece freqüentemente em Didática, este artigo nasceu de umademanda, expressa tanto pelos professores como pela instituição escolar na Suiça francófona, que queriam dispor de meios de ensino da expressão oral e escrita na escola obrigatória3. Mesmo que uma tal demanda não leve imediatamente a conceber um programa detalhado ou um currículo que dê conta do conjunto das séries, ela leva a elaborar um modelo de ensino modular, aplicável em toda a seriação em questão (ver Quadro 2), e a uma investigação geral para organizar a progressão através dos diferentes ciclos4 do Ensino Fundamental5. O presente artigo pretende exatamente expor os primeiros esboços desta investigação -

1 Dolz, J. & B. Schneuwly (1996) Genres et progression en expréssion orale et écrite – éléments de
réflexions à propos d’une expérience romande. Enjeux, 37-38: 49-75 [NT].
2 Joaquim Dolz é também professor e pesquisador em Didática do Francês/Língua Materna, da




Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação (FAPSE) da Universidade de Genebra


(UNIGE), Suíça, e membro do Grupo Grafé – Grupo Românico de Análise do Francês Ensinado.

 No caso da Suiça francófona, o fim da escola obrigatória equivale ao fim de nosso Ensino Fundamental (8ª série/15 anos). [NT]


4 Como mais recentemente, no ensino oficial brasileiro, também a escolaridade na Suiça francófona é organizada por Ciclos, que, entretanto, não equivalem exatamente aos Ciclos de seriação no Brasil. [NT]


5 Encontramo-nos aqui numa situação, a uma só vez, confortável e desconfortável: confortável, pois devemos dar, custe o que custar e rapidamente, as respostas demandadas pela instituição e, assim, temos desculpas para nossas dificuldades teóricas de resolução em profundidade de certos problemas (que, aliás, provavelmente, não podem ser resolvidos só por respostas teóricas, o que aumenta ainda mais nosso conforto); desconfortável, justamente porque estas respostas que deveríamos dar são, por princípio, parciais e podem, portanto, ter efeitos imprevistos, porque imprevisíveis. A análise destes efeitos não desejados será uma das maneiras de conhecer melhor as restrições que a realidade em que agimos nos apresenta.

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baseada essencialmente na noção de gênero - e desenvolvê-la, sistematizando-a, no sentido de assegurar sua base teórica. Trata-se também de demonstrar não sua exeqüibilidade - que verificar-se-á ou não a posteriori, por seus efeitos eventuais sobre o sistema escolar francófono -, mas sua coerência teórica com certos postulados de base de nossa concepção sobre a didática. Currículo e progressão.Estamos utilizando aqui a noção de currículo por oposição à de programa escolar. Enquanto que o programa escolar supõe uma centração mais exclusiva sobre a matéria a ensinar e é recortado segundo a estrutura interna dos conteúdos, no currículo, esses mesmos conteúdos disciplinares são definidos em função das capacidades e das experiências necessárias ao aprendiz. Além disso, os conteúdos são sistematicamente postos em relação com os objetivos de aprendizagem e os outros componentes do ensino.

Segundo Coll (1992), as principais funções de um currículo são as

seguintes: descrever e explicitar o projeto educativo (as intenções e o plano de

ação) em relação às finalidades da educação e as expectativas da sociedade;

fornecer um instrumento que oriente as práticas dos professores; levar em conta

as condições nas quais se realizam estas práticas; analisar as condições de

exeqüibilidade, de modo a evitar uma descontinuidade excessiva entre os

princípios e as restrições colocadas pelas situações de ensino. Um currículo para

o ensino da expressão deveria fornecer aos professores, para cada um dos níveis

de ensino, informações concretas sobre os objetivos visados pelo ensino, sobre as

práticas de linguagem6 que devem ser abordadas, sobre os saberes e habilidades



implicados em sua apropriação. Não existe, até o momento, para a expressão oral

6 Estamos optando, neste texto, por traduzir o termo “langagière”, na medida do possível, pela
locução “de linguagem”, por acreditarmos ser esta a tradução mais ampla possível. Já a mais
justa seria “discursivo(a)”. [NT]


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e escrita, um currículo como este, que apresente uma divisão dos conteúdos de

ensino e uma previsão das principais aprendizagens.

Entre os diversos componentes do currículo, a progressão – ou seja, a



organização temporal do ensino para que se chegue a uma aprendizagem ótima -

permanece como um problema complexo, difícil de se resolver. É preciso que nos

lembremos de que as decisões relativas à ordem temporal que se deve seguir no

ensino situam-se essencialmente em dois níveis. Segundo Coll (1992, p. 66), elas

dizem respeito tanto à divisão dos objetivos gerais entre os diferentes ciclos do

ensino obrigatório (progressão interciclos) como à seriação temporal dos

objetivos e dos conteúdos disciplinares em cada ciclo (progressão intraciclo).

Além disso, à parte a questão do currículo, o problema da progressão coloca-se

igualmente no nível das seqüências concretas de ensino realizadas em sala de

aula, isto é, no momento em que o professor decide sobre a seqüência de

atividades e operações com que ele pretende fazer avançarem os alunos:

definição e decomposição das tarefas a serem realizadas; caminho e etapas a

serem seguidas para aproximar-se de um fim; ordem dos diversos elementos do

conteúdo etc.
Contra o solipsismo - Construção conjunta intencional
Na gênese social e instrumental de uma função superior como a

linguagem, é fundamental que se considere a relação existente entre a

aprendizagem - a saber, os mecanismos pelos quais os fatores externos

modificam os comportamentos - e o desenvolvimento. Num texto precursor,

Vygotsky (1935) criticava tanto o objetivismo reducionista quanto as concepções
endógenas da psicologia idealista. Para o objetivismo, o desenvolvimento reduz-se



a uma aprendizagem por associação e acúmulo de respostas, desvalorizando-se,

assim, o papel ativo e transformador do sujeito. Por outro lado, as concepções

endógenas distinguem o desenvolvimento da aprendizagem, mas consideram

esta última um processo externo que não está implicado ativamente no

desenvolvimento. Para esta segunda corrente, a aprendizagem não é uma

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condição fundamental do desenvolvimento das funções superiores. Como

ressalta notavelmente Rivière (1990, pp. 89-95), Vygotsky propõe uma concepção

radicalmente diferente, segundo a qual a aprendizagem é uma condição prévia

necessária às transformações qualitativas que se produzem ao longo do

desenvolvimento e opõe-se às duas concepções anteriormente citadas, por uma

única e mesma razão: “ambas as orientações partem de uma concepção essencialmente
solipsista do sujeito” (p. 91). Nos dois casos, o sujeito está sozinho e não se vê o



pólo ativo que representa sua relação com os outros. Num dos casos, ele está

reduzido a um complexo de mecanismos reativos; no outro, está reduzido a

competências internas. Para Vygotsky (1934: 88), “a aprendizagem humana




pressupõe uma natureza social específica e um processo por meio do qual as crianças

acedem à vida intelectual daqueles que as cercam”.



Quando nos damos conta de que o termo russo utilizado por Vygotsky é

obouchenie, que implica tanto os processos de ensino como os de aprendizagem



(Schneuwly, 1995), a posição do psicólogo parece ainda mais radical. O

desenvolvimento na idade escolar só se torna possível graças ao ensino e à

aprendizagem intencionais, que supõem um pré-enquadre da situação e uma

tomada de consciência por parte dos participantes: o professor e seus alunos.

Tanto a aprendizagem incidental, advinda acessoriamente no curso da realização
de uma ação, como a aprendizagem intencional, onde o sujeito está implicado



numa situação que visa um efeito, são construções sociais. A aprendizagem

intencional freqüentemente se realiza em meio institucional. No que concerne às

práticas de linguagem, sua apropriação começa no quadro familiar, mas certas

práticas, em particular aquelas que dizem respeito à escrita e ao oral formal,

realizam-se essencialmente em situação escolar na nossa sociedade, graças ao

ensino, por meio do qual os alunos conscientizam-se dos objetivos relativos à

produção e à compreensão. Aqui, mais ainda que em outras aprendizagens, a

cooperação social é o fator determinante das transformações e dos progressos

que ocorrem.

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Neste contexto, o que podemos dizer sobre o mote do pedocentrismo “a
criança no coração da ação pedagógica”? Metáfora significante de um algo caduco ou



emblema de uma nova forma de solipsismo? Em todo caso, nas representações

dos professores (Perrenoud-Aebi, 1995), esta fórmula aparece sistematicamente

associada a uma visão de aprendizagem na qual é a dinâmica interna

inconsciente dos aprendizes que estrutura os comportamentos. Certamente, a

fórmula é consensual. Mas nos resta perguntar, como o faz Rochex (1996: 33) se

este consenso “não repousa, pelo menos em parte, sobre uma espécie de lugar comum
pedagogicamente correto, cuja freqüência de uso poderia perfeitamente ser




inversamente proporcional ao rigor conceitual. Se podemos nos alegrar de ver assim

reconhecido que não haveria aprendizagem sem atividade e engajamento do sujeito, a meu

ver, convém reafirmar – na esteira, dentre outros, de Wallon, de Vygotsky ou de

Meyerson –, que o objeto mesmo sobre o qual se exerce esta atividade confere-lhe um

caráter normatizado (o que não quer dizer normalizado) e demanda ao sujeito que saia de

si mesmo para se defrontar com normas e significações partilhadas e, logo, para

confrontar-se com e expor-se à alteridade.


Qual interacionismo?
Podemos reencontrar o debate aqui delineado, no interior do campo da

didática do francês língua materna. Não se trata, como no caso de outras

didáticas, de uma controvérsia entre os defensores do “interacionismo lógico” e do
interacionismo social”. O primeiro, que parece ignorar que as relações humanas



são sempre mediadas por objetos do mundo cultural (cf. Bronckart, 1996), não

pode mais fornecer um quadro interpretativo interessante para se refletir sobre o

ensino de línguas. Para o “interacionismo social”, a consciência de si e a construção



das funções superiores são estreitamente dependentes da história de relações do

indivíduo com sua sociedade e da utilização da linguagem. O fato de pertencer a

uma comunidade de interpretação das unidades de representação permite a

compreensão e a antecipação das atividades de outrem; permite, igualmente, a

modificação de seu próprio comportamento, levando-se em conta o ponto de

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vista do outro. Considerando-se a ação recíproca dos membros do grupo e os

sistemas de comunicação que a tornam possível como os principais fenômenos

explicativos da aprendizagem, esse quadro teórico convém perfeitamente para

interpretar e compreender os problemas em jogo na didática do francês língua

materna. E deixa, pelo menos, duas opções estratégicas em aberto.

Duas contribuições feitas no colóquio sobre as interações leitura-escrita

(Reuter, 1994) ilustram-nas à perfeição. A primeira, defendida por Vinson &

Privat (1994), insiste sobre as interações entre o aprendiz e as propriedades

culturais do texto num projeto de construção direta de uma pessoa livre, criativa e



autônoma. A outra, proposta por Dolz (1994), considera que o desenvolvimento

da autonomia do aprendiz é, em grande parte, conseqüência da mestria7 do



funcionamento da linguagem em situações de comunicação. O objetivo primeiro

é o de instrumentalizar o aprendiz para que ele possa descobrir, com seus



camaradas, as determinações sociais das situações de comunicação assim como o

valor das unidades lingüísticas no quadro de seu uso efetivo. Nesta segunda

opção estratégica, as intervenções sistemáticas do professor desempenham um

papel central para a transformação das interações entre o aprendiz e o texto.

A primeira posição, a que chamaremos “interacionismo intersubjetivo”,



prioriza a dinâmica transacional das trocas na aprendizagem. É uma teoria sóciocognitiva

da aprendizagem, que centra sua atenção sobretudo nos contextos de

interação, de influência mútua, de trocas verbais e de atividades de construção

conjunta em situações “naturais”, relegando a um plano acessório as

intervenções ditas “artificiais” e intencionais, ditadas pelo meio social. Arrisca-se,

assim, a perder de vista os ingredientes de ensino que desempenham um papel

catalisador no desenvolvimento. Os discursos são considerados como objetos de

aprendizagem e como instrumentos a serviço da aprendizagem, mas são

7 Poderíamos aqui ter escolhido as palavras “domínio” ou “controle”, mais freqüentes no cenário
vygotskiano. Optamos, entretanto, por “mestria”, por duas razões: fidelidade ao texto original e




sinalização para as elaborações mais recentes de J. Wertsch sobre a questão. [NT]
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raramente abordados como objetos de ensino. Uma progressão baseada numa

teoria como essa tenderia a selecionar objetos e situações naturais, cada vez mais

complexas, que seriam, potencialmente, fontes de aprendizagem. Procuraria

antecipar seqüências possíveis e diferenciadas de aprendizagem, sem selecionar

objetivos e objetos progressivos de ensino, sem formalizar a ordem das

intervenções do professor.

A segunda posição, a que chamaremos “interacionismo instrumental”,



insiste sobre as relações ensino-aprendizagem e sobre os diferentes instrumentos

que podem ser construídos para permitir a transformação dos comportamentos.

Uma teoria social do ensino-aprendizagem enfoca as influências sociais a que os

alunos estão submetidos, ao mesmo tempo em que leva em conta as

características do lugar social no qual as aprendizagens se realizam: a escola. Ela

leva em consideração as necessidades e finalidades que fazem com que os

diferentes participantes busquem uma forma de interação na qual os modelos

retidos dependem de sua valorização social. Ela analisa as intervenções

intencionais dos professores em função de um projeto, distinto da esfera

cotidiana de experiência do aluno, e estuda não só os ajustes retrospectivos para

assegurar a continuidade das aprendizagens, mas sobretudo o efeito dos ajustes

prospectivos, em função do modelo buscado, das novidades introduzidas e do

pré-enquadre proposto. As antecipações predispõem a uma atenção seletiva que

consiste em tratar certos componentes do modelo e em ignorar outros. As

interações são reguladas pelos professores, que são responsáveis por ajudar o

aluno a assimilar as novidades. A progressão curricular derivada de uma tal

teoria é considerada como uma elaboração “artificial”, uma construção de

instrumentos, destinada a melhor controlar os diversos componentes que

integram os processos de ensino-aprendizagem.

Quais são as conseqüências desta última perspectiva para uma concepção

global da progressão?

Primeiramente, o currículo deve fornecer uma visão de conjunto dos

objetos de ensino e dos objetivos limitados a atingir face a estes objetos. Estes

48

objetos culturais são abordados em toda sua complexidade, isto é, do ponto de

vista das normas e das significações partilhadas que veiculam, mas são também

decompostos para o ensino.

Em segundo lugar, coloca-se para o currículo o problema da progressão

de grupos heterogêneos de alunos trabalhando conjuntamente. Ele não tem por

função estabelecer expectativas relativas ao desenvolvimento singular dos

alunos, mesmo que cuide de respeitá-lo. Ele define expectativas mínimas da

sociedade para todos.

Em terceiro lugar, o currículo deve antecipar os obstáculos típicos da

aprendizagem, nos diferentes ciclos escolares e no interior destes ciclos, assim

como as novas etapas pelas quais os alunos podem passar. Fornece aos

professores as grandes orientações de trabalho como referenciais e hipóteses a

adaptar, de acordo com os grupos de alunos e com as restrições das situações

concretas de ensino.

Em quarto lugar, o currículo precisa as situações de colaboração entre

alunos do mesmo ciclo e/ou de diferentes ciclos, que facilitam uma construção

conjunta de novas capacidades.

Em quinto lugar, o currículo fornece os instrumentos e as estratégias de

intervenção para transformar as capacidades iniciais apresentadas pelos alunos

(resultados da aprendizagem espontânea, mas sobretudo do ensino intencional

anterior). Traz consigo, portanto, elementos que permitem aos alunos passar a

uma nova etapa no seu complexo processo de socialização.
A tensão entre as exigências externas e as possibilidades internas
A organização de uma progressão no ensino da expressão na escola

obrigatória exige, como vimos, um esclarecimento das finalidades. Estas fazem

parte de um contrato social constantemente atualizado pelos parceiros do

sistema educativo. No quadro da renovação do francês na Suiça francófona, a

fórmula geral “aprender uma língua é aprender a comunicar” constitui um dos



princípios em vigor na metodologia de referência adotada pelos diversos

49

cantões. Inspirando-nos numa concepção interacionista, podemos explicitar da

seguinte maneira em que consiste dar prioridade ao funcionamento

comunicativo dos alunos:

prepará-los para dominar a língua em situações variadas, fornecendo-lhes



instrumentos eficazes;

desenvolver nos alunos uma relação com o comportamento discursivo



consciente e voluntária, favorecendo estratégias de autoregulação;

ajudá-los a construir uma representação das atividades de escrita e de fala em



situações complexas, como produto de um trabalho e de uma lenta elaboração.

As situações de ensino são concebidas, fundamentalmente, para permitir

aos alunos que ultrapassem seus próprios limites na direção definida pelas

finalidades. Deste ponto de vista, uma progressão curricular global centra-se em



conteúdos disciplinares que se supõe que coloquem problemas para os

aprendizes de um ciclo. Ela visa a tensão entre as possibilidades internas dos

aprendizes e as exigências externas fontes de toda aprendizagem (Schneuwly,

1994; 1995), mas, por seu caráter geral, somente pode dar uma visão de conjunto

das exigências externas e das etapas necessárias para atingi-las. Sugere, portanto,

formas ideais externas com as quais os alunos devem se confrontar ao longo da

escolaridade obrigatória de maneira a se assegurar a aprendizagem da expressão.

Se, para as atividades gramaticais, o professor dispõe de uma descrição

precisa dos conteúdos que os alunos devem adquirir a cada série; para as

atividades de expressão escrita e oral, onde os saberes a se construir são

infinitamente mais complexos, ele tem tido de se contentar com indicações muito

sumárias. Tudo se passa como se a capacidade de produzir textos fosse um saber

que a escola deve encorajar, para facilitar a aprendizagem, mas que nasce e se

desenvolve fundamentalmente de maneira espontânea, sem que pudéssemos

ensiná-la sistematicamente.

A operacionalização da zona proximal de desenvolvimento (ZPD),



introduzida por Vygotsky, exige um nível de concretização maior que a

50

progressão curricular global. Tal como a analisam Besson & Bronckart (1995: 46)

a ZPD não é determinável ‘a priori’; o ensino, em sua lógica educativa própria




(sobretudo, lógica dos programas), só pode propor situações de interação que julga serem

eficazes; e estas somente o serão se os elementos interativos forem assimiláveis ao estado

de desenvolvimento efetivo do aluno. Portanto, o sucesso na criação de uma ZPD nunca

está assegurado e depende grandemente da experiência profissional do professor”. A



criação de um espaço potencial de desenvolvimento deve ser encarada no nível

local, no quadro da realização de seqüências didáticas que têm por objeto

gêneros.
Progressão, seqüência didática e gêneros
A concepção de conjunto proposta neste trabalho funda-se sobre o

postulado de que comunicar-se oralmente ou por escrito pode e deve ser

ensinado sistematicamente. Ela se articula por meio de uma estratégia, válida

tanto para a produção oral como para a escrita, chamada seqüência didática8, a



saber, uma seqüência de módulos de ensino, organizados conjuntamente para

melhorar uma determinada prática de linguagem. As seqüências didáticas

instauram uma primeira relação entre um projeto de apropriação de uma prática de
linguagem e os instrumentos que facilitam esta apropriação. Desse ponto de vista,



elas buscam confrontar os alunos com práticas de linguagem historicamente

construídas, os gêneros textuais, para dar-lhes a possibilidade de reconstruí-las e

delas se apropriarem. Esta reconstrução realiza-se graças à interação de três

fatores: as especificidades das práticas de linguagem que são objeto de

aprendizagem; as capacidades de linguagem dos aprendizes e as estratégias de

ensino propostas pela seqüência didática.

8 Para uma bibliografia completa das pesquisas sobre as seqüências didáticas da equipe de




didática de línguas da Universidade de Genebra, ver Dolz & Schneuwly, 1996 [NA]. Ver

também os capítulos 4 e 6 deste volume [NT].
51

As práticas de linguagem são consideradas como aquisições acumuladas pelos



grupos sociais no curso da História. Numa perspectiva interacionista, são, a

uma só vez, o reflexo e o principal instrumento de interação social. É devido a

essas mediações comunicativas, que se cristalizam na forma de gêneros, que as

significações sociais são progressivamente reconstruídas. Disso decorre um

princípio que funda o conjunto de nosso enfoque: O trabalho escolar, no

domínio da produção de linguagem, faz-se sobre os gêneros, quer se queira ou

não. Eles constituem o instrumento de mediação de toda estratégia de ensino e

o material de trabalho, necessário e inesgotável, para o ensino da textualidade.

A análise de suas características fornece uma primeira base de modelização

instrumental para organizar as atividades de ensino que estes objetos de

aprendizagem requerem.

O que é um gênero? Em outro texto (Schneuwly, 1994)2, desenvolvemos a



idéia metafórica do gênero como (mega-)instrumento para agir em situações de

linguagem. Uma das particularidades deste tipo de instrumento - como de

outros, aliás - é que ele é constitutivo da situação: sem romance, por exemplo,

não há leitura e escrita de romance. Sem dúvida, esta é uma das particularidades

do funcionamento da linguagem em geral (e, logo, um limite da metáfora

instrumental...). A mestria de um gênero aparece, portanto, como co-constitutiva

da mestria de situações de comunicação. Situando-nos na perspectiva

bakhtiniana, consideramos que todo gênero se define por três dimensões

essenciais: 1) os conteúdos que são (que se tornam) dizíveis através dele; 2) a

estrutura (comunicativa) particular dos textos pertencentes ao gênero; 3) as

configurações específicas das unidades de linguagem, que são sobretudo traços

da posição enunciativa do enunciador, e os conjuntos particulares de seqüências

textuais e de tipos discursivos que formam sua estrutura.

2 Ver capítulo 1 deste volume. [NT]


52

A noção de capacidades de linguagem (Dolz, Pasquier & Bronckart, 1993)



evoca as aptidões requeridas do aprendiz para a produção de um gênero numa

situação de interação determinada: adaptar-se às características do contexto e do

referente (capacidades de ação); mobilizar modelos discursivos (capacidades

discursivas) e dominar as operações psicolingüísticas e as unidades lingüísticas

(capacidades lingüístico-discursivas). O desenvolvimento das capacidades de

linguagem constitui-se, sempre, parcialmente, num mecanismo de reprodução,

no sentido de que modelos de práticas de linguagem estão disponíveis no

ambiente social e de que os membros da sociedade que os dominam têm a

possibilidade de adotar estratégias explícitas para que os aprendizes possam se

apropriar deles. A descrição das etapas da ontogênese, a análise das capacidades

de linguagem dos aprendizes assim como o estudo dos processos subjacentes

implicados constituem referências que podem ajudar a compreender as

transformações que se produzem ao longo da aprendizagem e contribuem para

fixar os contornos das intervenções dos professores. A observação das

capacidades de linguagem, antes e durante a realização de uma seqüência

didática, destina-se a delimitar um espaço de trabalho possível de ser adotado

nas intervenções didáticas. As capacidades atestadas pelos comportamentos dos

alunos são consideradas como produtos de aprendizagens sociais anteriores e

fundam as novas aprendizagens sociais.

Finalmente, as estratégias de ensino supõem a busca de intervenções no



meio escolar que favoreçam a mudança e a promoção dos alunos a uma melhor

mestria dos gêneros e das situações de comunicação que lhes correspondem.

Trata-se, fundamentalmente, de se fornecerem aos alunos os instrumentos

necessários para se progredir. Para fazê-lo, as atividades comunicativas

complexas que os alunos ainda não estão aptos a realizar de maneira autônoma

serão, de certa maneira, decompostas, o que permitirá abordar um a um,

separadamente, os componentes que colocam problemas para os alunos. As

intervenções sociais, a ação recíproca dos membros do grupo e, em particular, as

intervenções formalizadas nas instituições escolares são fundamentais para a

53

organização das aprendizagens em geral e para o processo de apropriação de

gêneros em particular. Neste sentido, as seqüências didáticas são instrumentos

que podem guiar as intervenções dos professores.

Numa primeira etapa de nosso trabalho, o problema da progressão


colocou-se principalmente a partir da elaboração e da experimentação das

seqüências didáticas (cf. Besson & Bronckart, 1995; Dolz, Pasquier & Bronckart,

1993; Pasquier & Dolz, 1996; Schneuwly, 1991). A definição dos objetivos de uma

seqüência didática devia adaptar-se às capacidades e às dificuldades dos alunos

nela engajados. Tratava-se sobretudo de promover mudanças associadas a uma

situação específica de aprendizagem. Para fazê-lo, era preciso não só analisar

estas capacidades (assim como os obstáculos e as insuficiências, muito variáveis

de um grupo de alunos a outro) antes de ensinar, mas também durante o ensino.

Por exemplo, o esforço de elaboração de seqüências didáticas do Serviço de

Francês3 nestes últimos anos exerceu-se fundamentalmente na organização de



uma seqüência de atividades e de exercícios que permitissem a transformação

gradual das capacidades iniciais dos alunos para dominarem um gênero -

transformação esta gerada pelo desejo de resolver a contradição entre o que eles

são capazes de produzir e as novidades que estão descobrindo com seus

camaradas. As estratégias privilegiadas neste tipo de progressão são as

seguintes:

1. adaptar a escolha de gêneros e de situações de comunicação às

capacidades de linguagem apresentadas pelos alunos;

2. antecipar as transformações possíveis e as etapas que poderiam ser

transpostas;

3 Serviço de Didática do Francês da Direção do Ensino Primário genebrino, encarregado da




elaboração de meios de ensino e da formação contínua dos professores [NA].

Unidade da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, ligada ao Departamento de

Didática de Línguas da Universidade de Genebra, responsável pela prestação de serviços aos

Cursos regulares de Formação de Professores de Francês (língua materna) e aos Cursos de

Formação em Serviço oferecidos à Rede Pública de Genebra, em processo de expansão para a

Rede Pública da Suiça francófona [NT].
54

3. simplificar a complexidade da tarefa, em função dos elementos que

excedem as capacidades iniciais das crianças;

4. esclarecer com os alunos os objetivos limitados visados e o itinerário

a percorrer para atingí-los;

5. dar tempo suficiente para permitir as aprendizagens;

6. ordenar as intervenções de maneira a permitir as transformações;

7. escolher os momentos de colaboração com os outros alunos para

facilitar as transformações;

8. avaliar as transformações produzidas.

Um certo número de problemas de progressão pode ser resolvido no

quadro de uma classe, isto é, no quadro da interação entre o professor, que

intervém para tornar possíveis as aprendizagens; um grupo de alunos, que

trabalha; e os gêneros, que constituem o objeto de ensino. Entretanto, as próprias

possibilidades de se realizar seqüências didáticas que visam uma progressão do

ensino-aprendizagem dependem das restrições postas pelo sistema de ensino e

pelo sistema educativo. A generalização (e a própria prática) das seqüências

didáticas que estão sendo teorizadas permanece aleatória, enquanto os novos

objetos de ensino propostos - os gêneros - não tenham um lugar mais claro nos

guias curriculares do primário e do secundário obrigatórios4 e enquanto não for



proposta uma concepção de conjunto da progressão curricular da expressão.
A progressão na tradição escolar
Propor que se organize a progressão em torno dos gêneros não será um

retrocesso à tradição escolar centenária de ensino da redação e da composição?

Como mostram os trabalhos sobre a história deste ensino (Chartier & Hébrard,

1994; Chervel, 1988; Schneuwly, 1986; Ludwig, 1988), foram, com efeito, os

4 Equivalentes ao nosso antigo primário e ginásio. [NT]


55

gêneros as primeiras unidades de construção das progressões nos guias

curriculares. Trata-se, sobretudo e nesta ordem - citamos aqui a título de exemplo

Schöne & Mortreux (1940) -, da descrição, “domínio de observação mais fácil de
abordar”; da composição à vista de gravura5, “mais difícil [porque] o detalhamento é
necessariamente mais minucioso”; da narração, que “se apoia sobre a descrição e a
composição à vista de gravura” e da dissertação, que “tem o rigor de uma
demonstração matemática e, como ela, chega a uma conclusão” (p. 125s).



Os gêneros tratados no quadro do ensino da redação e da composição têm

diversas particularidades6. Mesmo tendo sido originados da tradição retórica, ao



mesmo tempo, estão deformados, na medida em que a função que assumiam em

seu quadro de origem não está mais presente. Não servindo mais a uma causa

jurídica ou política, tornam-se, assim, exclusivamente modos de apresentação da

realidade tal e qual e, logo, puros produtos escolares para os quais não há

verdadeiras referências textuais exteriores, já que toda a escrita social extraescolar

tem evidentemente também uma dimensão comunicativa. A escola cria,

assim, sua própria norma textual, aliás pouco explícita: os gêneros escolares.

Quanto à progressão, esta é definida por uma seqüência quase imutável de

gêneros, baseada ou em considerações sobre a complexidade do objeto a ser

descrito (descrição vs. composição à vista de gravura; narração vs. dissertação),

ou em considerações de inclusão (descrição e composição à vista de gravura

estão contidos na narração). Tendo-se definido a escrita como ato de

representação perfeita do mundo, a progressão é concebida como a construção

passo a passo, aditiva, desta capacidade única que é a “arte de escrever”, sempre



idêntica a si própria, qualquer que seja sua finalidade, “coroamento” do esforço

pedagógico no ensino de língua materna, como o dizem numerosos guias

curriculares.

5 Portrait”, no original. [NT]
6 Ver o próximo capítulo, a respeito. [NT]


56

Ao lado desta pedagogia do coroamento dominante, existe, também desde



sempre, uma tradição minoritária no sistema escolar que não aparece nos guias

curriculares e nos manuais, mas que está presente nas práticas em graus

variados. A título emblemático, citaremos as práticas de escrita diversificadas

introduzidas na escola por Freinet ou por ele sistematizadas: textos livres, jogos

dramáticos, romances coletivos, poemas, correspondência, jornal de classe ou de

escola, conferência. Poderíamos definir sua estratégia dizendo que ele levou a

sério as situações escolares como situações de comunicação e, por isso,

desenvolve ou adapta os gêneros existentes. A importância do enfoque de

Freinet - e de numerosas práticas que a ele se referem de perto ou de longe - não

pode ser subestimada no contexto francófono. Prova disso é que a renovação do

ensino de francês, preparada nos anos sessenta com a introdução explícita da

dimensão comunicativa nos objetivos e guias curriculares, concretamente, não

propõe senão - e Vourzay (1966), em sua tese notável, demonstra isso - a

introdução oficial das práticas “freinéticas” nas salas de aula da escola pública,

embora desligadas de seu contexto funcional, a saber o funcionamento

cooperativo da classe (Clanché, 1988).

O enfoque de Freinet abre as portas à dimensão comunicativa da

linguagem, ausente dos enfoques dominantes da pedagogia do coroamento.

Parece-nos que ele pode e deve ser desenvolvido em dois pontos que se

constituem como pontos cegos na maneira de Freinet conceber o trabalho com

textos: a pouca atenção que ele dá aos gêneros existentes socialmente e sobre os

quais, de fato, modelam-se subrepticiamente os gêneros que ele desenvolve em

sala de aula e a ausência de reflexão sistemática sobre os problemas de

progressão na mestria dos gêneros, devida, sem dúvida, à sua concepção de

aprendizagem como processo natural.

57
Agrupamentos de gêneros: Um instrumento para construir a

progressão
Do ponto de vista teórico, um dos paradoxos dos gêneros, dentre outros,

reside no fato de que eles são mais ou menos imediatamente referenciáveis e

referenciados cotidianamente nas práticas de linguagem - de tal forma que

podemos freqüentemente nomeá-los sem muita hesitação e, na comunicação

quotidiana, sempre o fazemos -, mas nunca se prestam à definição sistemática e

geral, sem dúvida por causa de seu caráter multiforme, maleável, “espontâneo”.

Sua descrição se faz, portanto, sempre a posteriori, como explicitação da evidência



cotidiana que permite seu reconhecimento e por meio de enfoques locais que não

podem visar a descrição ou mesmo a explicação de regularidades mais gerais da

linguagem. Disto decorre que eles não podem fornecer princípios para a

construção de uma progressão e de um currículo, mas, apesar disso, devem

constituir os ingredientes de base do trabalho escolar, pois, sem os gêneros, não

há comunicação e, logo, não há trabalho sobre a comunicação.

A própria diversidade dos gêneros, seu número muito grande, sua

impossibilidade de sistematização impedem-nos, pois, de tomá-los como

unidade de base para pensarmos uma progressão. Não há eixo de continuidade

que permitiria pensar a construção de capacidades, senão aquele de dominar

cada vez melhor um gênero, e outro, e outro e, através deles, a arte de escrever

em geral - o que constitui precisamente a pedagogia do coroamento descrita

anteriormente. Já que, visivelmente, as progressões não podem ser construídas

no nível imediato da unidade “gênero”, é necessário, então, recorrermos a outras

conceitualizações lingüísticas e psicológicas.

As tipologias do discurso elaboradas em lingüística e psicologia, durante

um certo tempo, puderam ser consideradas como uma saída promissora. Muito

rapidamente, verificou-se que, mesmo trazendo importantes conhecimentos

novos sobre o funcionamento da linguagem e, logo, elementos que devem ser

levados em consideração no trabalho com textos, estas tipologias sofriam, do

ponto de vista de sua aplicação didática, de duas limitações importantes

58

(Schneuwly, 1991): a) seu objeto não é o texto, e ainda menos o gênero do qual

todo texto é um exemplar, mas operações de linguagem constitutivas do texto,

tais como a ancoragem enunciativa e a escolha de um modo de apresentação ou

de tipos de seqüencialidades; b) por isso mesmo, a análise se exerce sobre

subconjuntos particulares de unidades lingüísticas que formam configurações,

traduzindo as operações de linguagem postuladas. As tipologias discursivas não

podem, por si só, fornecer uma base suficientemente ampla para elaborarmos

progressões, que ficariam forçosamente parciais, tocando somente em certos

aspectos do funcionamento da linguagem.

Sem negarmos a contribuição essencial destas proposições teóricas,

optamos por um enfoque de agrupamentos de gêneros. Sabemos e assumimos seu
caráter parcialmente ad hoc, mas estes respondem, apesar disso, a três critérios



essenciais no que diz respeito à construção de progressões, para a qual

constituem um instrumento indispensável. É preciso que os agrupamentos:

1. correspondam às grandes finalidades sociais legadas ao ensino,

respondendo às necessidades de linguagem em expressão escrita e oral,

em domínios essenciais da comunicação em nossa sociedade (inclusive a

escola)7;



2. retomem, de modo flexível, certas distinções tipológicas que já figuram

em numerosos manuais e guias curriculares;

3. sejam relativamente homogêneos quanto às capacidades de linguagem



dominantes implicadas na mestria dos gêneros agrupados.

Os agrupamentos assim definidos não são estanques uns com relação aos

outros; não é possível classificar cada gênero de maneira absoluta em um dos

7 Estas necessidades de linguagem não se definem somente, ou mesmo essencialmente, sobre a




base de uma visão utilitarista estreita que afirmaria que é preciso ensinar o que pode servir

mais tarde ao aluno. Estamos convencidos do contrário. Sabemos mesmo que, em certos casos,

a escrita é uma via particularmente eficaz para melhor compreender o funcionamento dos

textos e para assim adquirir uma melhor mestria da leitura e da análise de textos.
59

agrupamentos propostos; no máximo, seria possível determinar certos gêneros

que seriam os protótipos para cada agrupamento e, assim, talvez particularmente

indicados para um trabalho didático. Trata-se, mais prosaicamente, de dispor de

um instrumento suficientemente fundado teoricamente para resolver

provisoriamente problemas práticos (ver nossa nota 5 sobre o conforto e o

desconforto do didático).

O Quadro 1 apresenta os cinco agrupamentos de gêneros que estamos

atualmente utilizando como base de nosso trabalho8 e, para cada agrupamento,



os três critérios que nos servem para determinar a coerência mínima da proposta

com as referências externas. De saída, devemos notar que a originalidade da

estratégia não reside absolutamente nos agrupamentos propostos, que, ao

contrário, são semelhantes a muitos outros, mas antes de tudo no fato de

trabalharmos no nível dos gêneros e na tentativa de definirmos as capacidades de
linguagem globais em relação às tipologias existentes.
QUADRO 1: PROPOSTA PROVISÓRIA DE AGRUPAMENTO DE GÊNEROS9




Domínios sociais de comunicação
ASPECTOS TIPOLÓGICOS



Capacidades de linguagem dominantes

Exemplos de gêneros orais e escritos
Cultura literária ficcional
NARRAR



Mimesis da ação através da criação da intriga

no domínio do verossímil
conto maravilhoso

conto de fadas

fábula

lenda

narrativa de aventura

narrativa de ficção científica

narrativa de enigma

narrativa mítica

sketch ou história engraçada

8 Ignoramos propositadamente a poesia, que não pode, absolutamente, ser tratada como




agrupamento de gêneros. Para um tratamento interessante, ver Jolibert, Sraiki & Herbeaux,

1992.

9 Já que os gêneros e sua circulação são práticas reconhecidamente culturais, tomamos a liberdade




de inserir no Quadro 1 alguns gêneros que circulam com freqüência em nossa sociedade e que

não figuram no Quadro original. Também aproximamos ou adptamos a designação de alguns

deles. Uma proposta revista destes agrupamentos, figura em Dolz & Schneuwly (1997) [NT].
60
biografia romanceada

romance

romance histórico

novela fantástica

conto

crônica literária

adivinha

piada…
Domínios sociais de comunicação
ASPECTOS TIPOLÓGICOS



Capacidades de linguagem dominantes

Exemplos de gêneros orais e escritos
Documentação e memorização das ações humanas
RELATAR



Representação pelo discurso de experiências

vividas, situadas no tempo
relato de experiência vivida

relato de viagem

diário íntimo

testemunho

anedota ou caso

autobiografia

curriculum vitae

...

notícia

reportagem

crônica social

crônica esportiva

...

histórico

relato histórico

ensaio ou perfil biográfico
61
biografia

...
Discussão de problemas sociais controversos
ARGUMENTAR



Sustentação, refutação e negociação de

tomadas de posição
textos de opinião

diálogo argumentativo

carta de leitor

carta de reclamação

carta de solicitação

deliberação informal

debate regrado

assembléia

discurso de defesa (advocacia)

discurso de acusação (advocacia)

resenha crítica

artigos de opinião ou assinados

editorial

ensaio

...
Domínios sociais de comunicação
ASPECTOS TIPOLÓGICOS



Capacidades de linguagem dominantes

Exemplos de gêneros orais e escritos
Transmissão e construção de saberes
EXPOR



Apresentação textual de diferentes formas dos

saberes
texto expositivo (em livro didático)

exposição oral

seminário

conferência

comunicação oral

palestra

entrevista de especialista

verbete

artigo enciclopédico

texto explicativo

tomada de notas

resumo de textos expositivos e explicativos

resenha

relatório cientifico

relatório oral de experiência


instruções de montagem

receita
62
Instruções e prescrições
DESCREVER AÇÕES



Regulação mútua de comportamentos
regulamento

regras de jogo

instruções de uso

comandos diversos

textos prescritivos

...
Estes agrupamentos parecem ser suficientemente diferentes uns dos

outros para que seja possível definir, para cada um deles, algumas capacidades

globais que se deve construir ao longo da escolaridade. No próximo item,

exemplificaremos isso para o terceiro domínio. O princípio sobre o qual a

progressão está elaborada é muito simples: trata-se de construir, com os alunos,

em todos os graus de escolaridade, instrumentos, visando o desenvolvimento

das capacidades necessárias para dominar os gêneros agrupados. A hipótese de

trabalho subjacente é a de que há uma afinidade suficientemente grande entre os

gêneros agrupados, para que transferências se operem facilmente de um a outro,

hipótese fundada sobre a idéia de uma dominância no que concerne às

capacidades psicológicas implicadas em cada agrupamento. Dito isso, há

também capacidades de produção de linguagem que atravessam os diferentes

agrupamentos e, logo, possibilidade de transferência transagrupamentos, que

ainda não estamos levando em conta em nossa proposta.

De um ponto de vista curricular, propomos que cada agrupamento seja

trabalhado em todos os níveis da escolaridade, através de um ou outro dos

gêneros que o constituem. Pelo menos, as seguintes razões militam em defesa de

um tal encaminhamento:

ele oferece aos alunos vias diferentes de acesso à escrita e, assim, realiza o
princípio pedagógico de diferenciação (Schneuwly, Rosat, Pasquier & Dolz,



1993). Podemos, com efeito, supor que as capacidades de escrita de cada

aluno não se distribuem uniformemente nos diferentes agrupamentos;

determinado aluno terá mais facilidade para argumentar, um outro para

narrar e assim por diante. A escrita não aparece como um único obstáculo,

63

difícil de transpor, mas como um domínio que se pode abordar por

diversos caminhos, mais ou menos fáceis;

de um ponto de vista didático, a diversificação dos gêneros trabalhados,



regulada pelos agrupamentos, oferece a possibilidade de definirmos

especificidades de funcionamento dos diferentes gêneros e tipos, para um

trabalho de comparação de textos. Trata-se de um princípio elementar de

construção por confronto com o mesmo e o diferente;

psicologicamente, numerosas operações de linguagem, necessárias, por



exemplo, para dominar a narração no sentido em que a definimos, estão

intimamente ligadas a um agrupamento de gêneros e exigem um ensinoaprendizagem

direcionado que, além disso, é necessário que se faça em

diferentes níveis de mestria. Isto não exclui transferências de um

agrupamento a outro ou a transformação mais global da relação do aluno

com sua própria linguagem;

finalmente, as finalidades sociais do ensino da expressão impõem um



trabalho específico para desenvolver as capacidades dos alunos em

domínios tão diversos quanto a linguagem como instrumento de

aprendizagem ou como mimesis da ação a serviço da reflexão sobre a



relação do homem com o mundo e consigo mesmo.
Elaborar progressões: Exemplo de um encaminhamento
Vamos ilustrar o encaminhamento utilizado para tentarmos construir

progressões, por meio de um exemplo desenvolvido para o terceiro agrupamento

do Quadro 1. De maneira geral, este encaminhamento pode ser caracterizado

pelos seguintes passos:

a) para cada um dos agrupamentos, levando-se em conta especialmente os

aspectos tipológicos e as capacidades de linguagem dominantes, é possível

definirmos objetivos a atingir de complexidade variável, ou, dito de outra

maneira, problemas de linguagem de diferentes níveis de dificuldade.

64

Estes se relacionam com três níveis fundamentais de operações de

linguagem em funcionamento (ver Bronckart et al., 1985; Schneuwly, 1988;



Bain & Schneuwly, 1994):

representação do contexto social ou contextualização (capacidades de



ação);

estruturação discursiva do texto (capacidades discursivas);
escolha de unidades lingüísticas ou textualização (capacidades



lingüístico-discursivas);

b) estes objetivos são buscados (ou estes problemas de linguagem são

abordados) no quadro de seqüências didáticas, através do trabalho sobre

um ou vários gêneros do agrupamento, em seqüências didáticas do tipo

das descritas acima;

c) o enfoque é potencialmente espiral, ao menos em dois níveis:

objetivos semelhantes são abordados em níveis de complexidade cada



vez maior ao longo da escolaridade;

um mesmo gênero pode ser abordado diversas vezes ao longo da



escolaridade, com graus crescentes de aprofundamento.

O modelo dominante subjacente à concepção não é, portanto, o de uma

construção passo a passo, elemento por elemento, mas o de uma reorganização

fundamental das capacidades de linguagem dominantes, em função da

intervenção de novos elementos (novas operações dominadas; novos saberes

adquiridos). Toda a arte de conceber uma progressão - na verdade, muito pouco

dominada - é a de definir um certo número de elementos-chave, particularmente

propícios a iniciar transformações importantes no modo de funcionamento da

linguagem, no sentido de uma melhor mestria de seus processos próprios. Isto é

particularmente difícil pelo fato de que estes elementos-chave não são os mesmos

nem para todos os agrupamentos de gêneros, nem para todos os grupos de

alunos.

65

Ilustremos este encaminhamento por um exemplo concreto de esboço

de uma progressão para o agrupamento de gêneros “argumentar”. O Quadro

2 mostra os elementos constitutivos deste trabalho: os objetivos ou

problemas de linguagem estão agrupados em função dos três níveis

essenciais de operações de linguagem; estes objetivos estão organizados em

ciclos, tais como funcionam na escola suiça francófona, em função de sua

suposta complexidade; são propostos gêneros particularmente propícios para

se trabalhar estes objetivos que poderiam constituir objetos privilegiados de

trabalho nos diferentes graus.
66

CICLO
EXEMPLOS DE GÊNEROS DE




TEXTOS QUE PODERIAM SER

ESCOLHIDOS

REPRESENTAÇÃO DO CONTEXTO




SOCIAL

ESTRUTURAÇÃO DISCURSIVA DO TEXTO ESCOLHA DE UNIDADES LINGÜÍSTICAS



1-2 ORAL:

dar sua opinião e




justificá-la

debate coletivo em




classe

dar sua opinião em situações




próximas da vida cotidiana

dar sua opinião com um mínimo de




sustentação (um ou mais argumentos de

apoio)

perceber as diferenças entre pontos de




vista

utilizar expressões de responsabilização
enunciativa10 para dar opiniões
utilizar organizadores de causa para




sustentar opiniões

formular questões da ordem do porquê




3-4 ESCRITA:

imprensa (revista




infantil): carta de leitor

ORAL:

defender sua opinião




diante da classe

reconstruir a questão e o




assunto que desencadearam o

debate

identificar e levar em conta o




destinatário do texto

precisar a intenção de um texto




argumentativo

levar em conta o lugar e o




momento onde o texto será lido

hierarquizar uma seqüência de




argumentos (3) em função de uma

situação

produzir uma conclusão coerente com




os argumentos precedentes

ligar diferentes argumentos e articulálos




com a conclusão

reconhecer e utilizar diversas expressões




de responsabilização enunciativa em

uma opinião a favor ou contra

utilizar organizadores enumerativos
distinguir organizadores que marcam




argumentos dos que marcam conclusão

utilizar fórmulas de interpelação e




fechamento da carta

5-6 ESCRITA:

imprensa (revista para




jovens): carta de leitor

correspondência: carta




de reclamação

(destinada a

autoridade)

ORAL:

debate público regrado
representar globalmente




uma situação polêmica (por

jogo de papéis) e analisar

seus parâmetros:

o argumentador e seu papel




social

o destinatário e seu papel




social

o finalidade: convencer
o lugar de publicação do




texto

antecipar as respostas
adotar a forma de uma carta não oficial
e estar atento à diagramação; idem para




carta oficial

apresentar o tema da controvérsia na




introdução

desenvolver os argumentos,




sustentando-os por um exemplo

formular objeções aos argumentos do




adversário

dar uma conclusão
utilizar organizadores argumentativos




marcando:

o o encadeamento dos argumentos
o a conclusão
utilizar verbos de opinião
utilizar fórmulas para se opor e exprimir




objeções

introduzir: uma experiência pessoal, um




exemplo

formular um título com um grupo




nominal

10 Estamos traduzindo por “responsabilização enunciativa” a expressão francesa “prise en charge énonciative”. [NT]


67
possíveis do(s)

adversário(s)

CICLO
EXEMPLOS DE GÊNEROS DE




TEXTOS QUE PODERIAM SER

ESCOLHIDOS

REPRESENTAÇÃO DO CONTEXTO




SOCIAL

ESTRUTURAÇÃO DISCURSIVA DO TEXTO ESCOLHA DE UNIDADES LINGÜÍSTICAS



7-8 ESCRITA:

imprensa local: carta




de leitor, carta aberta,

artigo de opinião

correspondência: carta




de solicitação

ORAL:

diálogo argumentativo
deliberação informal
discernir as posições




defendidas num texto e

delinear a situação

polêmica subjacente

compreender as crenças




alheias e atuar sobre elas

analisar as características




do receptor do texto para

adaptar-se a elas

antecipar posições




contrárias

citar a palavra alheia
distinguir lugares sociais e




gêneros argumentativos

escolher um plano de texto adaptado




ao gênero argumentativo trabalhado

definir a tese a defender, elaborar




argumentos e agrupá-los por tema

distinguir entre argumento/não




argumento e entre argumento

contra/ contra-argumento

prever diferentes tipos de argumento




e hierarquizá-los em função da

finalidade a atingir

selecionar as palavras alheias que




apoiam sua própria tese

organizar o texto em função da




estratégia argumentativa

utilizar organizadores




argumentativos marcando: refutação,

concessão, oposição

utilizar verbos declarativos neutros,




apreciativos, depreciativos

utilizar fórmulas introduzindo




citações

em função da orientação




argumentativa: reconhecer e utilizar

diversos meios para exprimir dúvida,

probabilidade, certeza (advérbios,

verbos auxiliares, emprego dos

tempos)

distinguir modalidades de




enunciação: questões retóricas;

fórmulas interrogativas; exclamativas

8-9 ESCRITA:

imprensa: editorial
correspondência: carta de




pedido de emprego

publicidade: encarte




publicitário

ensaio, composição de




idéias

réplica de defesa ou




acusação (advocacia)

ORAL:

debate público regrado
levar em conta um destinatário




múltiplo

tomar para si a palavra alheia
discernir restrições institucionais




da situação de

argumentação

classificar gêneros argumentativos




em função das situações

de argumentação

identificar a faceta




argumentativa dos gêneros não

argumentativos

delimitar o objeto da discussão
escolher o gênero e as estratégias




argumentativas

definir as diferentes teses possíveis




sobre a questão

explorar os argumentos e as




conseqüências de cada uma das teses

antecipar e refutar as posições




adversárias

elaborar contra-argumentos
adotar um ponto de vista em função do




papel social e escolher o tom adequado

discernir a dimensão dialógica da




argumentação num texto

identificar o papel argumentativo de




certos conectivos: já que, se, além disso…

implicar o receptor utilizando dêiticos de




pessoa: eu, nós, a gente, você(s)

inserir diferentes formas de discurso




reportado

utilizar termos apreciativos: pejorativos,




ameliorativos

empregar vocabulário conotativo
utilizar anáforas conceituais
reconhecer e utilizar diversas marcas




modais
68

reconstituir os raciocínios implícitos
QUADRO 2: ELEMENTOS PARA UMA PROGRESSÃO CURRICULAR NO DOMÍNIO ARGUMENTAR”; GÊNEROS SUSCETÍVEIS DE SEREM TRABALHADOS EM FUNÇÃO DOS CICLOS; OBJETIVOS PARA OS TRÊS NÍVEIS DE OPERAÇÕES




DE LINGUAGEM
69

Embora baseada sobre numerosas pesquisas no domínio da argumentação

(Brassard, 1990; Chartrand, 1994; Dolz, 1996; Golder, 1996; Schneuwly, 1988), a

proposta ainda permanece grandemente intuitiva, especulativa mesmo, e isso,

por duas razões: porque os conhecimentos são ainda muito pouco avançados no

domínio do desenvolvimento das capacidades argumentativas; mas, ainda mais

fundamental, porque, conforme os postulados enunciados no começo do

presente artigo, a interação entre ensino-aprendizagem e desenvolvimento, que

está no cerne de nossa concepção, faz supor que a própria mudança do quadro

de intervenção sobre as capacidades de linguagem transforma fortemente o

rumo e o ritmo de desenvolvimento destas últimas.
À guisa de conclusão: Validade didática como único critério da

progressão
A organização de uma progressão temporal do ensino, tal como aqui

esboçada, construída sobre a base de um agrupamento de gêneros e levando em

conta os diferentes níveis de operações de linguagem, é somente uma proposta

provisória de um currículo aberto e negociado. Aberto, pois não recobre a



totalidade das atividades possíveis em expressão oral e escrita; aberto, pois não

pode antecipar todos os problemas de aprendizagem e, assim, os professores

devem adaptá-lo e completá-lo em função de situações concretas de ensino. Esse

caráter aberto de um currículo pede contínuos ajustes não somente no nível local,

mas também no da progressão interciclos e intraciclos. Negociado, pois

diferentes atores participam nas diferentes fases de elaboração e, depois, de

ajuste.

Neste processo, o critério a privilegiar para tomar decisões é o da validade

didática: as possibilidades efetivas de gestão do ensino proposto; a coerência dos

conteúdos ensinados; assim como os ganhos de aprendizagem. A progressão

curricular resultante da estratégia discutida acima ainda deverá ser testada:

entrar nas práticas e ser avaliada do ponto de vista da validade didática.

70
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